Protestos em Los Angeles têm relação com empresa de moda. Entenda
Uma das lojas afetadas pela intervenção recente da ICE, que levou aos protestos em Los Angeles, é um depósito de moda no Fashion District
atualizado
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A recente intervenção do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) dos Estados Unidos, que levou aos atuais protestos de Los Angeles, envolveu um local que funciona como fábrica e depósito de moda. O espaço em questão – uma dos quatro que foram alvo da ICE, no fim da semana ada – foi da Ambiance Apparel, que fica no Fashion District, localizado no centro.

Protestos em Los Angeles
A situação, segundo a imprensa internacional, resultou na prisão de até 40 trabalhadores imigrantes, que têm um grande papel na indústria de moda norte-americana. Dos profissionais presos no depósito, segundo a revista GQ, ao menos 14 são homens indígenas de origem mexicana, da comunidade Zapoteca. Segundo o Los Angeles Times, desde então, os detidos tiveram pouco ou nenhum contato com familiares.
Os protestos em resposta à intervenção, vale lembrar, ocorrem em meio à deportação em massa ordenada pelo presidente Donald Trump, que impôs tarifas a outros países em abril sob o argumento de fortalecer a indústria local – que, há gerações, tem uma parcela importante de mão de obra formada por imigrantes, incluindo a nada equitativa confecção de roupas.

Relação com a moda
O vestuário consumido nos Estados Unidos, como a coluna mostrou há algumas semanas, durante os embates entre Trump e a China, é 98% fruto de importações. No entanto, a parcela produzida no país tem uma participação importante da população que imigrou de outros países. Ela inclui pessoas de nações como Guatemala, China, Espanha, México e Ucrânia, conforme disse um produtor do segmento de calçados ao Sourcing Journal.
Imigrantes formam uma grande parcela dos 45 mil trabalhadores de vestuário de Los Angeles, a principal do ramo no país. Nos Estados Unidos, os profissionais imigrantes formam 16% de toda a força de trabalho, e 42% do total que atua especificamente com corte e costura, sem considerar as demais funções do setor de moda, de acordo com dados do Center for Public Integrity citados pela revista GQ.
No vídeo abaixo, do Metrópoles, saiba mais sobre o panorama dos protestos em Los Angeles:
Reflexão sobre o tema
A ideia de que imigrantes apenas ocupam os empregos que os americanos não querem mais, como se especula no senso comum, não resiste à análise histórica e econômica. A verdade é mais complexa. Durante décadas, imigrantes têm assumido uma parcela significativa da força de trabalho nos Estados Unidos, mas isso não significa que esses postos sempre lhes pertenceram.
Há cerca de meio século, eram os próprios americanos que ocupavam essas funções, de operários a atendentes de parques de diversões. A mudança ocorreu quando grandes empresas aram a preferir contratar imigrantes por salários menores, aproveitando-se de sua vulnerabilidade legal e social. Isso reduziu as oportunidades para trabalhadores americanos, alimentando uma crise de desemprego que, em parte, contribuiu para o cenário político que culminou na reeleição de Donald Trump.
Portanto, ao discutir imigração e mercado de trabalho, é importante escapar de discursos simplistas. A substituição de trabalhadores locais por imigrantes não foi uma escolha espontânea da população, mas uma estratégia empresarial que priorizou a redução de custos em detrimento da Justiça trabalhista.