“Dormiu com minha mulher?”: militar agride colega ao acusá-lo de importunação
Segundo-tenente do Exército, que foi agredido, é acusado de importunação sexual contra a esposa e a enteada de subtenente
atualizado
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Um subtenente do Exército responde por tentativa de homicídio, lesão corporal grave e ameaça após agredir a pauladas um segundo-tenente acusado de importunar a esposa e a enteada dele, à época com 16 anos, por meio de mensagens em rede social e de ligações. O militar também enviou uma foto do órgão genital dele, de acordo com boletim de ocorrência feito pela enteada.
Segundo denúncia do Ministério Público Militar (MPM), obtida pela coluna, as agressões ocorreram em 7 de agosto de 2023, por volta das 18h15, em frente a uma loja em Ponta Grossa, no Paraná. Ambos eram vizinhos.
O subtenente foi ao local, armado com uma pistola e um cabo de madeira, para prestar contas do colega de farda após descobrir que ele supostamente importunou a enteada e a esposa do oficial. A importunação teria ocorrido anos antes, em 2016, mas foi registrada em boletim de ocorrência em 8 de agosto de 2023, um dia depois da briga entre os dois militares. A defesa do segundo-tenente, que foi agredido, afirma que jamais importunou a esposa e a enteada do vizinho militar.
Durante a briga, o subtenente perguntou ao colega militar: “Você vai voltar a conversar com minha esposa?” e “Você vai dormir mais uma vez com minha esposa?”.
O segundo-tenente ficou ferido nas mãos e nos braços, usados para tentar se proteger das pauladas. Em seguida, o subtenente sacou a arma e disparou, mas o tiro atingiu o chão, pois a vítima supostamente teria desviado o braço do oficial.
Acusação de importunação sexual
De acordo com os boletins de ocorrência, as mensagens enviadas pelo segundo-tenente incluíram elogios ao corpo da adolescente, convites para sair e pedidos para apagar as mensagens.
Segundo o depoimento da enteada, o militar também a coagiu a tirar a blusa enquanto ele se masturbava, dizendo que a estava vendo pela janela. Além disso, ameaçou contar o episódio ao padrasto e prejudicá-lo no quartel se a jovem não respondesse ou apagasse as mensagens.
Para a mãe da garota, fez supostos elogios à aparência e a convidou para sair a dois. Assim como fez com a jovem, o militar pediu que a mulher apagasse as mensagens, segundo o relato dela.
Leia trechos dos depoimentos:
O caso foi registrado inicialmente como assédio sexual, importunação sexual e constrangimento ilegal. Depois das acusações da jovem, o Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR) denunciou estupro. Ainda não houve julgamento.
No STM
O processo sobre a importunação sexual foi parar no Superior Tribunal Militar (STM). Ali, não estava em questão definir quem era culpado ou fixar uma pena, mas decidir a quem caberia apurar os fatos.
A Corte manteve a decisão de primeira instância de que a responsabilidade era da Justiça Militar da União (JMU), seguindo posicionamento do Ministério Público Militar (MPM). Pesou o fato de ambos residirem na mesma vila militar à época da suposta importunação, local do crime, ainda que em meio digital.
Agora, os dois processos vão para a fase de instrução, ou seja, para a colheita de provas e de depoimentos. As duas denúncias já foram aceitas, mas a da importunação sexual corre na Justiça comum.

O que dizem as defesas
À coluna a defesa do subtenente, o militar que agrediu, disse que trabalha para que os dois casos sejam julgados em conjunto, uma vez que vê nexo causal entre as ocorrências. Também busca atenuar os três indiciamentos para um só: lesão corporal leve. Isso porque alegam ter sido uma briga mútua.
A defesa do segundo-tenente, o militar agredido, negou à coluna as acusações de importunação sexual – no processo, classificou-as como “fantasiosas” –, sobretudo em relação à adolescente. Também afirmou que a briga não foi mútua e que seria provocada pelo fato de o subtenente ter ido tirar satisfações com o ex-vizinho por acreditar ter paquerado a esposa dele.